quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Caixa com ratos - REDUX



Casa de secretário é roubada e polícia cobra ação de vigia.
Delegado-geral cobra atuação mais efetiva de vigilantes de rua;
Estado passará a cadastrar e fiscalizar autônomos.

(Folha de S. Paulo, 09 de fevereiro de 2011, n. 29.897)


Depois de cumprir um longo roteiro de trabalho no Grande Texas, a região que se encontra entre Nova York e Los Angeles, ele chegou. Estava sentado na varanda do hotel Brasil, em Miami, o único lugar onde não se precisava falar inglês para ser entendido. Ele estava sentado na varanda de frente para a rua.

Cansado de tanto se esforçar para compreender a língua, traduzir o seu pensamento muitas vezes confuso para um inglês que não provoque risos ou gargalhadas. Em um dos últimos almoços, distraído, pediu uma truta (trout) e repolho, e a garçonete (de patins), muito solícita nas visitas à mesa, não saiu do lugar, sorrindo encabulada, e perguntou se ele pretendia jogar o peixe no lixo. Cabbage e Garbage.


Lembrou também de Josie e da explicação que ela lhe dera para aquela senhora aboletada, diariamente, no saguão de um dos hotéis que o abrigou. Veio à memória que, tempos atrás, esse momento exótico, de alguém parado feito estátua horas e horas no mesmo lugar, se passara em Vegas. Apesar da semelhança logo perdida; o homem sentado estava diante da mesa de Black Jack. E jogava desde a manhã até a noite. Um oriental com uma pilha enorme de fichas. Apenas tentava esquecer o passar do tempo. Lá, você pode apostar no balcão onde se espera pela bebida.


A mulher sentada trajava roupas de diferentes épocas. Camafeu no pescoço. Sob o abrigo vermelho nas costas, que lembrava os romances vitorianos, via-se a blusa branca, calças pretas, largas, sem modular o corpo. Uma peruca de penteado intrincado, uma torre instável de cabelos, vermelhamente falsos. Um adjetivo dispensável. O apetrecho mais incomum, um conjunto de mala e caixa: lá embaixo, a mala de viagem, suas hastes estendidas; sobre aquela, uma caixa com cãezinhos. Transbordante de pelúcias. Sentava-se ora em um sofá, ora em outro, sempre nas extremidades, olhando fixamente o horizonte invisível. Ela ignorava a parede adiante. Não se virava para lado algum. Quedava ali, solene. Parecia esperar.


Certo dia, após o jantar, o viajante resolveu ir ao saguão, sentar e observá-la, encoberto pelo jornal. Depois de algum tempo, notou que bastava alguém se aproximar para receber um sorriso; talvez alertada do calor de outro corpo humano, acendia-se nela esse reflexo instintivo. Trocavam algumas palavras que o observador não conseguia escutar. A conversa durava enquanto existisse fôlego no visitante. O comportamento dela se transformava quando o curioso era uma criança. Como se o corpo infantil não irradiasse calor suficiente para o alerta, e o sorriso aparecesse distraído, surpreso, como resposta a uma emoção. Um memento. A velha puxava assunto, exibia seus dentes amarelados, encarquilhando o rosto, mostrava os filhotes, discutiam o tamanho, dava o nome de cada um, de onde vinha, e o seu destino. Aparentava fazer de tudo para estender o papo. Mesmo afetuosa, não os dava, nem emprestava, apenas deixava o miúdo manusear as prendas. Despachava-os sem nenhuma altercação, com cortesia. Eles sentiam o poder daquela posse e não se atreviam a mais nada.


Uma buzina o acordou. Olhou o tráfego aumentando com o chegar da noite de sexta-feira. Um devoto judeu de chapéu sem aba, com copa de pele, alta e redonda, estava na calçada, de costas para a rua, olhando fixamente para a porta de entrada. Postado, ele não queria se distrair dela. Deu alguns passos, para diante e para trás, olhando fixo. Um rapaz, de calção e camiseta, com aspecto atlético, surgiu do escuro, ultrapassou o homem, pegou na maçaneta e abriu totalmente a porta, em um gesto típico dos americanos, forte, brutal, dispensando a ela o tratamento de coisa, a mola tonta titubeou um pouco e começou a voltar e fazer o seu trabalho de barrar a entrada. Nesse meio tempo, o hassídico se esgueirou para dentro com uma rapidez juvenil, insuspeitada, e entrou sem tocar na maçaneta. Parecia aliviado, já estava ali há vários minutos e ninguém fazia menção de entrar. Ele comentou alguma coisa na recepção e pegou as escadas em direção ao seu quarto. Talvez o elevador fosse tão lento que ele preferia o caminho mais rápido, apesar do esforço de escalar algumas dezenas de degraus.


Seu pensamento vagava, preguiçoso, e retornava para Josie e aquela mulher que o atraíra desde primeiro instante. Aproveitando aquele mistério e sua curiosidade, aproximou-se dela. É verdade que houve um incentivo, sorrisos constantes. Quem é ela? Talvez uma funcionária para distrair as crianças? Ou propagandear alguma loja? A moça entre hóspedes, telefonemas e recados resolveu contar, depois de aceitar um convite para sair.
A história se apresentou durante um jantar. Ele tomou o cuidado de comprar, alertado por um americano seu amigo, um chapéu (Bilabong) de feltro, apropriado para a ocasião. A história foi contada assim:


Aquela dama é galesa, um país que ainda tem um dragão vermelho na sua bandeira. Você consegue imaginar isso? Emigrou de seu país por amor. Apaixonara-se por um escritor que conheceu durante uma feira literária. O escritor era americano e famoso por colecionar mulheres e poesias. Bêbado, instável, agressivo, mas amoroso. Ela se apaixonou e abandonou o marido e a filha e foi morar com o escritor. Ainda hoje conta as proezas deles. Faz questão de afirmar: “Tudo o que se falava dele não era justo, era mais julgamento, lenda e maldade. A verdade que quase ninguém sabia era o caráter meigo dele com as mulheres. Pleno de sentimentos. Ríspido, às vezes, mas sempre verdadeiro. Tinha um apetite extraordinário para escrever, cerveja, cigarro e sexo.” Ela o descreve como um ser infatigável. Não importava o estado de espírito que o invadisse, não importavam as brigas, muito menos o comportamento dela. Bastava tocá-lo, e tudo ficava azul. Em determinado momento do dia, ou melhor, em vários, insistentes e determinados momentos do dia, ele precisava do sexo. Como nós precisamos de ar, água e pão. Ela apanhava e batia; estupros ativos e passivos; tratava-a como igual, sem contemplação. Quando os momentos não casavam, ela o agarrava e o fazia funcionar. Assim como uma máquina, de rosto marcado, nariz torto, descabelado, baixo e atarracado, feio, enfim. Nada disso importava. Sabia lidar com as palavras, sabia lidar com o instinto. Não cobrava nada, não queria nada. Precisava de alguém do lado. E ela estava sempre lá. Um belo dia, ele saiu. Avisou que ia para a Alemanha. Ajudar alguns amigos que se alistaram no exército vermelho. Ela descobriu que a tal armada era um grupo terrorista. E ficou por aqui, só. Não arriscou. Enquanto ele brigava, matava, raptava os seus inimigos e seduzia as alemãs. O escritor se encantou com aquela coisa de comunismo. Trocou de nome e desapareceu.  Dizem que ainda está por lá. Foi preso por alguns anos, agora está solto. Sumiu na multidão. Ela, amargurada, escreveu para o marido, contando tudo. Escreveu também para a filha. O marido também resolveu emigrar e resolveu viver com ela o resto dos seus dias, como se ela jamais o tivesse abandonado. Nunca tocaram na história, desde que ela continuasse a fazer a torta de rim que ele tanto amava. Essa sempre foi a sua fascinação. Não só a torta, mas a vida metódica, simples, sem nenhum outro horizonte, só viver bem o seu dia. Ele sabia que a amava. Não entendia, tampouco queria entender. Algo existiu dentro dele e se reavivou quando recebeu a carta dela. A filha também veio para cá. Havia se mudado para a Espanha. Escolhera entre um belga e um espanhol para se casar. Apostou suas fichas naquele que morava mais perto da praia. Estava separada. Não aguentou a grosseria e a avareza do marido. E a família voltou a se reunir. A filha se drogava muito e, um dia, seu corpo foi achado na beira de uma estrada. O pai foi reconhecer o cadáver. A galesa tinha muito medo. A partir daquele dia, o marido definhou. Até se finar. Morte inatural. Durante a nova fase, o casal vinha passar férias no hotel todos os anos. Tiravam uma semana de folga para andar pelos arredores. Ele gostava de pássaros, e faziam anotações, comparava com seus livros, encontravam os nomes e gravavam os cantos. Depois de enterrar a ambos, passou a morar nas redondezas, e vem aqui todos os dias.


As unhas do caixeiro tremeram, sapatearam sobre sua carne, ao ouvir a história, como a sua primeira vez em uma montanha-russa. Brindaram, olhando-se fixamente, com taças de vinho branco do Oregon, como ela disse gostar. Cheers. E deu um longo gole. Enquanto tentava consertar os sentimentos, contou, por inércia, da admiração que sentia pelo país. E também do episódio no aeroporto de Baton Rouge, enquanto esperava para embarcar. Sentou-se diante de uma moça totalmente vestida de negro. Da cabeça aos pés. Com aquela roupa de estilo menonita, amish. Enfeitou a cabeça com um chapéu redondo de aba curta, com uma faixa azul marinho e brilhante, nenhuma pele estava visível, as pernas com meias, os sapatos sem salto, de um feitio delicado, mostravam a forma dos pés. Excetuando-se um pequeno pedaço do pescoço, apenas a rosto era descoberto. Os olhos de um azul igual à fita, e a pele branca como jamais havia visto até então. Um branco cintilante saído das histórias do capitão Ahab. Estava sentada e composta, com as mãos cruzadas sobre as pernas, e uma pequena mala de viagem presa entre os pés. Depois de algum tempo, tirou da mala, com movimentos suaves, invisíveis, um iPad e começou a tocar na tela com gestos dignos de bailarina. Parecia estar alisando a pele de alguém, com muito cuidado e dedicação. Ele disse da sua surpresa ao ver um contraste tão belo entre o negro e o branco, e usou desta história para lhe pedir que jamais usasse uma roupa branca como aquela, pois temia pela sua sanidade diante da imagem que se formara em sua mente. Nem precisou dizer que eram parecidas. Ele e sua história foram recebidos com um sorriso aberto. Que tal essa amostra?  Ele ouviu.


No dia seguinte, ao jantar, depois que o casal terminou a noite em um local tranquilo, o caixeiro-viajante entrou na recepção, pediu ao barman Raul um café. Explicando seu café predileto: expresso mais fraco, ou carioca, como dizem os paulistas. Foi ouvido pacientemente. Ainda assim, não foi compreendido. O inglês fluente do funcionário contrastava com o gaguejado pelo nosso herói. Tentaram o portunhol, e nada. Arriscou Raul: Blando? “Como?” Flaco? “Sim, sim. Fraco. E com um pouco de espuma de leite.” Crema? “Não, leite, espuma de leite. O creme é enjoativo. Por favor, ferva o leite e colha a espuma com a colher e coloque no café.” Ah!Capuccino? “Não, esse tem canela e chocolate. Só café e leite.” Vocês são sempre complicados assim? (Abriu um largo sorriso.) Entrou outro cliente, pedindo a atenção de Raul, e ele resolveu desistir do café antes que o guatemalteco, naquele tom amável de brincadeira insolente, o chamasse de complicado outra vez. Ao passar pela recepção, pediu para ser chamado às cinco horas da manhã do dia seguinte.


O táxi chegou pontualmente. Ao volante, um russo chamado Igor, velho, expressão cansada. Ele, sorridente, perguntou: “Como está?” “Não sei.” “Está começando ou terminando o dia?” “Começando.” “Espero que seja bom.” Ouviu um murmúrio que significava: não quero conversar. Máfia russa, talvez.
Balcão do aeroporto. Lembrava a rodoviária de São Paulo. Gente carregando forno de microondas, equipamento de som, caixas gigantes contendo carrinhos de bebê. Carregadores de malas, com os maiores bíceps que já vira. Conseguiu reservar o seu lugar. Enésima fila da terceira classe do airbus.


Ele aprendera com o Turista Acidental que a menor quantidade de bagagem era a melhor política. Lavar a roupa no hotel, levar apenas um terno e duas camisas, duas mudas de roupa de baixo, utilizando-se apenas da bagagem de mão. Enfim, tornar a viagem leve, quase inexistente.
Entretanto, ao observar a entrada de duzentos e tantos passageiros naquele cilindro de aço turbinado com duas asas, onde as pessoas da companhia tentavam desesperadamente, e sem nenhum resultado, colocar ordem de prioridade na entrada, primeira classe, deficientes, grávidas, crianças desacompanhadas, resolveu relaxar e entrar por último.


Enquanto esperava, pensou que a melhor atitude a tomar quando se entra em um avião é ler algum estudo da vida dos ratos nas caixas, com o espaço mínimo para manter as atividades vitais, como a respiração, alimentando-se de pão e água e com todas as outras necessidades mantidas à distância, incluindo se lavar e evacuar. O corpo completamente comprimido, os movimentos restritos a tirar os sapatos e, na medida do possível, esticar as pernas. Ir e vir? A não ser que se esteja preparado para tropeçar, raspar, enroscar, esbarrar em corpos estranhos e parecidos com o seu. Seria mais fácil colocar a perna no pescoço do que se levantar.


Ao sentar, ouviu a discussão entre a aeromoça e um homem. Os cabelos puxados para o alto da cabeça, levando consigo os olhos e a comissura dos lábios. A própria Coringa. Ele, deficiente; ela de sorriso fixo, informou que o lugar dele já estava ocupado por alguém que se recusava a sair, informando que pagara por ele. Ele era dono do lugar. A Coringa tentou alegar que a prioridade era do outro. O ocupante compreendeu as alegações, mas insistiu que pagara pelo direito de sentar ali, de onde não sairia. Não era problema dele. Apareceu o supervisor para resolver a questão. Depois de tomar pé da situação, fez um breve discurso dizendo da sua preferência pela segunda fila, olhando para o homem em pé, cansado. Nela, ele poderia esticar as pernas com mais espaço do que no primeiro assento. E declarou: se ele insistisse com a prioridade, o assento seria obtido, claro. E, tornando a apontar para a cadeira vazia, iria repetir que melhor lugar era aquele na segunda fileira. E as palavras foram sumindo, se dispersando, todasligadassemespaçoalgumentreelas, e caíram no vazio. O nariz do deficiente se tornou vermelho, bem vermelho. Como golpe de graça, foi oferecido um bônus de cem dólares na próxima viagem do prejudicado, além da milhagem contada em dobro. O murmúrio dos demais começou a se tornar alto. O ocupante colocou fones de ouvido e abriu um jogo de paciência na tela do computador portátil. Ao lado, sua mulher de camisa listrada, calça preta e justa, tirou os sapatos e colocou os pés nus na parede divisória, flexionando as pernas. “Ah, o senhor pode utilizar o banheiro da primeira classe”, o homem de nariz vermelho ainda ouviu. Sentou-se, vagaroso. E a fila começou a andar.


Logo depois, entrou uma senhora de seios avantajados, acompanhada por outra, miúda e cansada, carregando um bebê de trinta dias. Elas enfrentaram o mesmo problema. Viajar com um bebê dá direito ao lugar preferencial, com berço. Certo? Errado. O mesmo lugar fora vendido para dois clientes.  O comprador também era pai de dois bebês com vinte e cinco e trinta anos, respectivamente, um metro e noventa e altura e cento e vinte quilos de peso. E dizia, esboçando um sorriso: “Eles ainda são meus bebês”.
A mãe, paranaense, viajando com a filha, primigesta idosa e lactante, para que ela se encontrasse com o marido que já retornara ao País. E outra controvérsia que se instalou. Resolveu-se com a retirada da avó para o fundão, restando a mãe com o bebê no lugar adequado. A mãe protestou veementemente, pagara há vinte e um dias pelo lugar. A filha não podia ficar longe. PAGARA ANTECIPADAMENTE para ter esse conforto, viajar ao lado da filha. Entrou em cena o comissário supervisor e anotou os dados para fazer a devolução do dinheiro. Pediu desculpas, enfadado e sorrindo. Ela se acomodou e tudo parecia estar resolvido.


Diante dessas discussões, o nosso viajante sentia-se quase em posição razoável, exceto por viajar ao lado de um índio de dois metros de altura, com um nariz de totem, cuja pele se esticava para conter quinze arrobas de carne, ossos e banha. E, ao ser indagado se não seria o caso de processar o responsável por aquela distribuição de espaço, respondeu: “Não, senhor, ele deveria viajar aqui”. E recostou-se com os braços cruzados sobre a minha cabeça, baixou a vedação da escotilha e escureceu o ambiente para tentar dormir.


A mãe veio do fundão, pedindo licença para todos, e abriu o bagageiro sobre a cabeça da filha para encontrar alguma coisa. Caiu um pacote. Pediu ajuda para fechar a tampa. E falava. Falava. Abriu o segundo, deixou cair a mala no chão, de novo pediu ajuda. Pegou o cobertor para cobrir a filha e atender o bebê que desatou a chorar, acordado pelo barulho da mala ou pela pregação da mater et magistra. A infeliz tripulante veio e discretamente disse que a aeronave não decolaria se ela não se aquietasse. E que não era permitido ela desatarraxar o cinto e ficar circulando pelo corredor. Afinal de contas, a mãe da criança era responsável e parecia saber o que fazia. “Isso não é da sua conta. A senhora se coloque no seu lugar. O argumento da força ameaçou tomar o lugar da força do argumento. As portas estavam cerradas. Alguém com um quepe de comandante surgiu e aquietou os ânimos. Ele permitiria a circulação desde que os avisos de perigo e de atar cintos estivessem desligados.


Sob o cacique, ex-jogador de basquete, ele abriu seu livro (Máfia) para conseguir suportar as horas que tinha pela frente, na tentativa de evitar o filme (Jantar para Idiotas) e as músicas (Sambas, Axé, Trechos dos Clássicos Inesquecíveis). A apresentação de Bravura Indômita foi cancelada, ele não se importou, porque não conseguiria ver o filme: a tela desceu até a altura do peito porque a poltrona da frente se inclinou para trás, para o vizinho da frente deitar. Ele restou espremido entre os dois espaldares, o dele e o do outro. Como se estivesse dentro de um triângulo.


Ele não podia inclinar seu encosto, pois a filha da mãe solícita acabara desistindo de seu lugar privilegiado para ficar sob as asas da mãe, no fundão, bem atrás dele. Ele ficou prensado entre um homem com um sono criminoso na frente e a avó briguenta atrás, e queria evitar os olhares condenatórios dos demais passageiros, caso fizesse uso do seu direito.
Não, não. Resolveu que o melhor era acender a luz e ler. Afinal, oito horas passariam bem rápido. O livro era bom. Encostou a testa no banco da frente, abriu o volume e tentou acender a luz. Ela não funcionava. Chamoou a comissária. “Ah, sim, claro. Vou providenciar. O sistema ainda não está ligado.” Esperou. Nada. Acendeu o sinal para chamá-la outra vez. Talvez tivesse esquecido. Ela voltou, pediu desculpas e prometeu solução imediata.

O avião decolou, ele curvado, tentando ler através da luz que vinha da janela da frente, até que a fecharam. E começou o serviço de bordo. “Café, chá, água ou suco? O botão da luz? Ah, sim. Estamos com um problema. Desculpe-nos a inconveniência. Pegou um papel e anotou o número do assento: 16D. “Farei uma reclamação ao setor competente.” Desesperado diante da alternativa de horas e horas de escuridão, arrotos e flatulências, procurando uma solução, descobriu, ao ler a tarjeta de embarque, que sentara no lugar errado.  O cidadão que ocupava o lugar que lhe seria destinado (18D) acendeu o seu foco de luz,  leu o jornal, depois a apagou, colocou uma venda para dormir para, logo em seguida, desistir, abrir o computador e começar a escrever. O viajante mostrava para a moça o seu número, CORRETO, e olhava indagando, com o rosto, a solução. Ela franziu a testa e lhe respondeu com um olhar desanimado.  Distraiu-se, e jogou o papel da anotação no lixo do seu carrinho.


Exasperado, próximo a se descontrolar, colocou os fones de ouvido: Eu não imaginava, quando fundei a companhia, que ela atingiria desse tamanho. Eu chorei. Todos nós choramos quando chegou o nosso primeiro jato. Ela começou com um monomotor. A razão do nosso sucesso é a vocação de bem servir. Oferecemos algo a mais. Além das expectativas dos nossos clientes.
Ele teve um acesso de riso incrível e solitário, enquanto todos os vizinhos comiam com apetite contagiante. Subiu acima dos roncos dos motores um odor cuja origem era sabida e a autoria, anônima, e sumiu pelo duto do ar condicionado após empestear o olfato de todos. Ao meu lado direito, uma senhora roncava estrepitosamente.


Uma janela foi aberta e o clarão repentino iluminou: “Ainda estamos governados pela ralé, diz o diretor do Instituto de Estudos Filosóficos de Nápoles.” Foi o que apareceu na folha do livro aberto sobre as pernas dele, que estudava o comportamento da Camorra na Itália e a repercussão da imigração dos calabreses e napolitanos, seus efeitos na Alemanha,  concluindo que todo italiano daqueles lugares que abre uma pizzaria é um agente da associação criminosa caso não consiga comprovar a origem legal do dinheiro.
Ali por perto estava o senhor de nariz vermelho. Ele parecia estar sereno, não havia nele qualquer sinal de inconformidade. Devia ser por fraqueza.


O bebê começou a chorar incessantemente. Depois, parou, tomou fôlego e recomeçou. Uma passageira da fila lateral se apresentou como professora de Reiki e fez um diagnóstico: “A pressão no ouvido da criança é que faz com que ela chore. Basta segurar com a sua mão o dedinho”. Ela chorou ainda mais.
Ele colocou o fone de ouvido, escolheu a estação dos clássicos maravilhosos, ouviu o inevitável Tchaikovsky, o romântico Chopin, o publicitário trecho das Quatro Estações. O seu pensamento divagava pelos picos gelados dos Andes, lembrando dos detalhes dos sobreviventes, que praticaram canibalismo para sobreviver. E o medo o invadiu ao passar por uma zona de muita turbulência.


Para se tranquilizar, contou para senhora do lado, que puxou conversa com ele, a história do amigo que se gabou de conseguir um desconto de cinquenta por cento, com um cameleiro no Cairo, pelo passeio de uma hora. O amigo descobriu o hálito fedido do bicho, os dentes esverdeados e os olhos vazados. Descobriu, também, que precisava de ajuda para subir no bicho. Com o sobe-e-desce constante do animal, ficou enjoado.  Restou a única saída: pedir ajuda, desesperadamente, para descer. E o cairota alegre mostrou uma cédula de cem dólares americanos: era o preço. Esperou pelo riso da senhora. E ouviu: “Tudo é sagrado, meu filho”. 


Desligou a música, ligou no canal de notícias: Massacre no metrô em Moscou: trinta e oito mortos. Atirador de vinte e dois anos dispara defronte a loja Safeway, contra cerca de vinte pessoas em Tucson; uma das alvejadas é Deputada na Câmara dos Representantes. Especula-se que ela foi o principal objetivo do autor.
Foi quando ele finalmente conseguiu adormecer, e dormiu tanto que perdeu o almoço. Ao desembarcar, foi barrado na alfândega. E sorriu.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Caixa com ratos






Casa de secretário é roubada e polícia cobra ação de vigia.
Delegado-geral cobra atuação mais efetiva de vigilantes de rua;
Estado passará a cadastrar e fiscalizar autônomos.
(Folha de S. Paulo, 09 de fevereiro de 2011, n. 29.897)



Depois de cumprir um cansativo roteiro de trabalho no Arizona, ele chegou. Estava sentado na varanda do hotel Brasil, em Miami, o único lugar da América onde não se precisa falar inglês para ser entendido. Olhava o tráfego que diminuía à medida que a noite chegava. Um devoto judeu e seu chapéu sem aba, com copa alta de pele, estava na calçada, de costas para a rua, olhando fixamente para a porta. Parecia não querer se distrair; deu alguns passos, para diante e para trás, sem tirar os olhos da porta. Um rapaz, de calção e camiseta, com aspecto atlético, surgiu do escuro, ultrapassou o homem, pegou na maçaneta e abriu totalmente a porta, em um gesto típico dos americanos, forte, brutal, dispensando a ela o tratamento de coisa, a mola titubeou um pouco e depois começou a fazer o seu trabalho de trazê-la ao lugar original. Nesse meio tempo, o hassídico se esgueirou com uma rapidez juvenil, insuspeitada, e entrou sem toca em nada. Parecia aliviado, já estava ali há vários minutos e ninguém se dispusera a ajudá-lo. Comentou alguma coisa na recepção e pegou as escadas em direção ao seu quarto. Talvez porque o elevador fosse tão lento, ele preferiu o caminho mais rápido, a despeito do esforço de escalar algumas dezenas de degraus.

Ele resolveu entrar. Na recepção, pediu a Raul um café. Explicou que gosta de café expresso, mais fraco ou carioca, como dizem os paulistas. Raul ouviu pacientemente. Afinal, parecia não compreender. Usava o inglês, o dele bem mais fluente que o do nosso herói. Usava o portunhol, e nada. Blando? “Como? Flaco?” “Sim, sim. Fraco. E com um pouco de espuma de leite.” “Crema?” “Não, leite, espuma de leite. O creme é enjoativo. Por favor, ferva o leite e colha a espuma com a colher e coloque no café.” “Capuccino?” “Não, esse tem canela e chocolate. Apenas café e leite.” “?” Entrou outro cliente, pedindo a atenção de Raul. Ele desistiu antes que o guatemalteco o chamasse de complicado novamente, em tom de amável e sorridente brincadeira. Ao passar, pediu para ser chamado às cinco horas da manhã.


O táxi chegou pontualmente. Ao volante, um russo chamado Igor, velho, expressão cansada. Ele, sorridente, perguntou: “Como está?” “Não sei.” “Está começando ou terminando o dia?” “Começando.” “Espero que seja bom.” Ouviu um murmúrio que significava: não quero conversar. Máfia russa, talvez.
Balcão do aeroporto. Lembrava a rodoviária de São Paulo. Gente carregando forno de microondas, equipamento de som, caixas gigantes contendo carrinhos de bebê. Carregadores de malas, com os maiores bíceps que já vira. Conseguiu reservar o seu lugar. Terceira fila da terceira classe. Airbus.


Ele aprendera com o Turista Acidental que a menor quantidade de bagagem era a melhor política. Lavar a roupa no hotel, levar apenas um terno e duas camisas, duas mudas de roupa de baixo, utilizando-se apenas da bagagem de mão. Enfim, tornar a viagem quase inexistente.
Entretanto, ao observar a entrada de duzentos e tantos passageiros naquele cilindro de aço turbinado com duas asas, onde as pessoas da companhia tentavam desesperadamente, e sem nenhum resultado, colocar ordem de prioridade na entrada, primeira classe, deficientes, grávidas, crianças desacompanhadas, resolveu relaxar e entrar ao final.


Enquanto esperava, pensou que a melhor atitude a tomar quando se entra em um avião é ler algum estudo da vida dos ratos nas caixas, com o espaço mínimo para manter as atividades vitais, como a respiração, alimentando-se de pão e água e com todas as outras necessidades mantidas à distância, incluindo se lavar e evacuar. O corpo completamente comprimido, os movimentos restritos a tirar os sapatos e, na medida do possível, esticar as pernas. Ir e vir? A não ser que se esteja preparado para tropeçar, raspar, enroscar, esbarrar em corpos estranhos e parecidos com o seu. O que se preserva, em condições de extrema adversidade, é o ar.
Talvez o uso completo da razão fosse possível se ele não estivesse submetido a tamanhos ultraje e pressão. Ele se limitou a usá-la no mínimo indispensável à sobrevivência.


Ao sentar, ouviu a discussão entre a aeromoça, cabelos puxados no alto da cabeça, e um senhor. Ele, deficiente; ela com um sorriso de plástico, informando que o lugar dele já está ocupado. O atual ocupante se recusava a deixar o lugar, informando que pagou por ele. Ele era o dono do lugar naquela viagem. A moça aludiu às prioridades designadas nas normas. “Eu compreendo o que a senhora diz, mas eu paguei pela passagem.” Chamaram o supervisor para resolver a questão. Ele conversou com o pretendente, dizendo apenas, como argumento, que sua preferência pessoal era a segunda fila. Ali, ele poderia esticar as pernas com mais espaço que no primeiro assento. Era a sua poltrona predileta. “Se o senhor insistir, eu conseguirei algo, claro. Mas alerto que o melhor lugar é este aqui”, apontando para uma cadeira no corredor. O senhor tentou argumentar dizendo que o problema era o espaço entre os bancos. O outro respondeu que daria um bônus para a próxima viagem e contaria os pontos em dobro. O murmúrio dos demais começou a se tornar alto. O ocupante colocou fones de ouvido e abriu um jogo de paciência na tela do computador portátil. Sua mulher e acompanhante, de camisa listrada, calça preta e justa, tirou os sapatos e colocou os pés nus na parede divisória para atender às necessidades de circulação. O funcionário deu a cartada final: “O senhor pode utilizar o banheiro da primeira classe”. Foi o golpe de graça. Sentaram-se todos. E a fila andou.

Viajar com um bebê, no caso de trinta dias, dá direito de o lugar oferecer um espaço chamado de berço. Prioridade para o bebê. Certo? Errado. O mesmo lugar fora vendido para dois clientes. A um pai com dois bebês de vinte e cinco e trinta anos, respectivamente, um metro e noventa de altura e cento e vinte quilos de peso, e para uma senhora do Paraná, que viajava com a filha, primigesta idosa, lactante, e o bebê. A filha ia se encontrar com o marido, que já retornara ao Brasil. Uma nova controvérsia se instalou, resolvida com a retirada da mãe para o fundão, restando a filha com o bebê no lugar adequado. A mãe protestou veementemente, pagara há vinte e um dias pelo lugar. A filha não podia ficar longe. Pagou a mais para ter esse conforto, viajar ao lado da filha. Entrou em cena o comissário supervisor e anotou os dados para fazer a devolução do dinheiro. Pediu desculpas com ar de enfado, ao mesmo tempo em que sorria. A mãe se acomodou no fundão e tudo parecia resolvido.

Diante dessas discussões, o nosso viajante sentia-se quase que em uma posição razoável, não fosse pelo fato de estar ao lado de um índio de dois metros de altura, com um nariz de totem, cuja pele se esticava forçada por quinze arrobas de carne, ossos e banha. O índio, ao ser indagado se não seria o caso de processar o responsável por aquela distribuição de espaço, respondeu: “Não, senhor, ele é que deveria viajar aqui”. E se recostou com os braços cruzados sobre a minha cabeça, depois de baixar a vedação da escotilha e escurecer o ambiente, para tentar dormir.
A mãe veio do fundão, pedindo licença para todos, e abriu o bagageiro sobre a cabeça da filha para encontrar alguma coisa. Fechou. Abriu o segundo, deixou cair a mala no chão, pediu ajuda para recolocá-la no lugar de origem. Descobriu um cobertor para cobrir a filha e atender o bebê que desatou a chorar, acordado pelo barulho da mala, ou pela pregação da mater et magistra. A infeliz tripulante veio e discretamente disse que a aeronave não decolaria se ela não se aquietasse, e que não era permitido ela desatarraxar o cinto e ficar circulando pelo corredor. “Isso não é da sua conta. A senhora se coloque no seu lugar.” O argumento da força ameaçou tomar o lugar da força do argumento. As portas estavam cerradas. Alguém fez as vezes do comandante para aquietar os ânimos: ele permitirá a circulação, desde que os avisos de perigo, ou cintos amarrados, estejam desligados.


Sob o cacique, ex-jogador de basquete, ele abriu seu livro (Máfia) para conseguir suportar as horas que tinha pela frente. A tentativa era de evitar o filme (Jantar para Idiotas) e as músicas (Sambas, Axé, Trechos dos Clássicos Inesquecíveis). Estava prevista a exibição de Bravura Indômita, cancelada por motivos supervenientes. Ele pensou que, de qualquer forma, não poderia ver o filme. A tela estava na altura do seu peito porque a poltrona da frente se deslocara na direção da sua cabeça para que o vizinho da frente pudesse esticar as pernas. E ele ficou espremido entre os dois espaldares, o dele e o do outro, como se estivesse dentro de um triângulo.


Ele não podia ficar com seu encosto na mesma posição, pois a filha solícita acabara desistindo do seu lugar privilegiado para restar ao lado da mãe, no fundão, bem atrás dele. Ele ficou prensado entre um homem com um sono criminoso e a avó briguenta, e queria evitar os olhares condescendentes dos demais passageiros. Se fizesse uso do seu direito de declinar o encosto, seria uma nova, interminável discussão.
Não, não. Era melhor acender a luz e ler. Afinal, oito horas passarão bem rápido. O livro era bom. Encostou a testa no banco da frente, abriu o volume e tentou acender a luz: não funcionava. Chamou a comissária, que ficou de resolver o assunto: “Ah, sim, claro. O sistema ainda não está ligado”. Esperou. Nada. Acendeu o sinal para chamá-la. Talvez tenha esquecido. Ela voltou, pediu desculpas e prometeu solução imediata.


O avião decolou, ele curvado, tentando ler através da luz que vinha da janela da frente. Alguém a fechou. E começou o serviço de bordo. “Café, chá, água ou suco? O botão da luz? Ah, sim. Estamos com um problema. Desculpe-nos a inconveniência.” Pegou um papel e anotou o número do assento: 16D. Farei uma reclamação ao setor competente. Desesperado diante da alternativa de horas e horas de escuridão, arrotos e flatulências, procurando uma solução, descobriu ao ler a tarjeta de embarque que sentara no lugar errado. O cidadão que ocupava o lugar que lhe seria destinado (18D) acendeu o seu foco de luz, leu o jornal e depois a apagou, colocando uma venda para dormir. Ele abriu o seu computador e começou a escrever. O viajante mostrou para a aeromoça o seu número, CORRETO, e olhou indagando, com o rosto, a solução. Ela franziu a testa e lhe respondeu com um olhar desanimado. Pouco depois, distraída, jogou o papel com a anotação no lixo do carrinho.

Exasperado, próximo a se descontrolar, colocou os fones de ouvido: “Eu não imaginava, quando fundei a companhia, que ela atingiria esse tamanho. Eu chorei. Todos nós choramos quando chegou o nosso primeiro jato. Ela começou com um monomotor. A razão do nosso sucesso é a vocação de bem servir. Oferecemos algo a mais. Além das expectativas dos nossos clientes”.
Ele teve um acesso de riso incrível e solitário, enquanto todos vizinhos comiam com apetite contagiante. Subiu acima dos roncos dos motores um odor cuja origem era sabida e a autoria, anônima, e sumiu pelo duto do ar condicionado, após empestear o olfato de todos. Ao seu lado direito, uma senhora roncava estrepitosamente.


Uma janela foi aberta e o clarão repentino iluminou: “Estamos governados pela ralé, diz o diretor do Instituto de Estudos Filosóficos de Nápoles...” apareceu na folha do livro que estava aberto sobre as pernas dele. O livro estuda o comportamento da Máfia na Itália, a repercussão da imigração dos calabreses e napolitanos e seus efeitos na Alemanha. Todo italiano daqueles lugares que abre uma pizzaria é um mafioso, a não ser que prove o contrário.
Atrás dele, estava o senhor que foi preterido, apesar da sua condição física, de flagrante necessidade de ajuda, para dar lugar a alguém que apenas pagou pelo conforto. Ele parecia estar sereno, nenhum sinal de inconformidade. Devia ser por fraqueza.

O bebê começou a chorar. Quase que incessantemente. Para. Toma fôlego e recomeça. Uma passageira da fila lateral se apresentou como professora de Reiki e faz um diagnóstico: “A pressão no ouvido da criança é que faz com que ela chore. Basta envolver com a sua mão o dedo anelar dela”. Após alguns instantes, o choro cessou. Ela chorou ainda mais.


Ele colocou o fone de ouvido, escolheu a estação dos clássicos, ouviu um incessante Tchaikovsky, o romântico Chopin, o inevitável trecho das Quatro Estações. O seu pensamento divagou: primeiro nos picos gelados dos Andes, onde os sobreviventes da queda quebraram alguns tabus, segundo testemunhas, para sobreviver. O mais divulgado foi o canibalismo. E o medo que o invadiu, no caso de uma pane qualquer, paradoxalmente contribuiu para acalmá-lo. Pensou também no amigo que se gabou de ter conseguido com o dono dos camelos no Cairo um desconto equivalente à metade do preço por um passeio. Descoberto o hálito fétido do bicho, os dentes esverdeados, os olhos vazados, enjoou com o sobe e desce constante e pediu, desesperadamente, ajuda para descer, ao que o cairota, alegre, mostrou uma cédula de cem dólares americanos como preço. Desligou a música, ligou no canal de notícias: Massacre no metrô em Moscou: trinta e oito mortos. Atirador de vinte e dois anos dispara defronte a loja Safeway, em dezenove ou vinte pessoas em Tucson; uma das alvejadas é Deputada na Câmara dos Representantes. Especula-se que fora o principal objetivo do autor.

Foi quando ele finalmente conseguiu adormecer, e dormiu tanto que perdeu o almoço. Ao desembarcar, foi barrado na alfândega. E sorriu.